Moinho de Vento

O moinho de vento do Lugar da Várzea, situado no cimo do Pico da Várzea ou Pico do Moinho, como é conhecido, foi mandado construir em 1874 por João de Sousa Carreiro, presenteando o ambiente, com graça, beleza e um certo ar bucólico, como natural agente transformador do grão, que brotava da terra.

A cultura do trigo foi a que praticamente predominou no primeiro século de vida agrícola dos Açores.

No Século XVII introduziu-se a cultura do milho, situando-se ambos no pleno desenvolvimento industrial da moagem. Esta fazia-se por meio de azenhas e moinhos de água que laboravam junto de muitas ribeiras que existiam nos montes e vales. 

Em 1633 constroem-se os primeiros moinhos de vento, dando-se início ao aproveitamento da força eólica. 

O moinho de vento passou a fazer parte da paisagem açoriana, emoldurando os cimos dos montes, “escrevendo lentamente dia e noite, no amplo e ritmado movimento dos seus panais, a nobre história da vida rústica destas ilhas”.

Conforme testemunhos recolhidos, o moinho de vento tinha um aspeto exterior, magnífico, com a sua cúpula vermelha, à qual se juntava a grosseira maquinaria dos seus panais.
O rés-do-chão era a casa de manobras do moleiro que, junto do traminhal (caixa onde caia a farinha), olhava atento à qualidade da farinha que vinha pela caleira, e regulava o todo o engenho através de cordas suspensas no tecto, ora accionava a mola para pôr em movimento ou parar os panais, ora graduava a sapata para dar têmpera à farinha, ora a moéga (caixa onde se lançava o grão, seguida de uma calha que o conduzia ao centro das mós do moinho) para regular a passagem do grão à pedra.

O moleiro, conhecedor dos caprichos do vento, dava a direção à cúpula, movendo-a pelo “rabo do moinho” (sistema em madeira que saía da base exterior do remate da cúpula no sentido oposto aos panais, descendo até ao solo). Subindo-se por uma escada de madeira encontrava-se no primeiro andar, suspensa em fortes traves de madeira fixadas nas paredes, a mó fixa, munida de uma alavanca de ferro que regulava a mó móvel, levantando-a ou abatendo-a, dando à farinha um acabamento mais ou menos fino. Passando-se ao segundo andar, aí se encontrava as restantes peças do moinho, ligadas à cúpula móvel. O vento movia os panais fixados na cabeça exterior do mastro que no extremo interior tinha uma roda dentada, engrenada numa outra robusta roda dentada, com um eixo de ferro perpendicular até à mó móvel. Esta pedra movia-se dentro da celha (caixa de madeira que envolvia a mó) da qual saia a farinha em caleira de madeira para o traminhal. Havia ainda uma roda grande, o volante, uma peça importante no funcionamento do moinho, a qual se apertava ou alargava pela mola através de uma corda em toda a sua altura, para manobrar o movimento da mó.

Para se ir ao moinho, tinha-se de percorrer a Rua do Poço e subir uma canada muito estreita e íngreme para lá chegar. Ainda hoje chamamos a Canada do Moinho, local marcado por gerações.

Hoje, o moinho de vento é uma relíquia de um passado longínquo, que encerra muitas histórias humanas de sacrifícios e sofrimento do trabalho árduo para obter o pão de cada dia.

Foi substituído pela moagem construída e equipada em 1946, por Francisco Maneca, natural dos Mosteiros.

Em 1963 foi adquirida por José Correia dos Reis, sendo, alguns anos depois, adquirida pelo seu genro, Manuel Roque Lindo, que a explorou até finais da década de 80 do século XX, onde veio a fechar as portas definitivamente, por se extinguir praticamente a cultura do milho de pão da vida dos meios rurais. 

Hoje é também uma outra relíquia em degradante ruína, dotada ao abandono.

Duas ruínas que constituem um cartaz negativo do nosso património. Era bom que houvesse sensibilidade para a recuperação do nosso património arquitetónico e paisagístico, dando-lhe vigor, para dignificar esta terra perante quem nos visita.

O moinho de vento recuperado e a moagem restaurada como museu seria sem dúvida um cartaz turístico digno, identificado com o meio rural que foi e é este Lugar da Várzea.

"Info Várzea"

Baseado no Livro: "100 anos da Escolas da Várzea e Sete Cidades", da autoria do Prof. Rubens Pavão.